quinta-feira, 14 de abril de 2011

Revolução Copernicana

A obra de Crítica da Razão Pura de Immanuel Kant, publicada em 1781, tratou desta questão: Como posso obter um conhecimento seguro e verdadeiro sobre as coisas do mundo? A resposta dada por Kant mudaria a rota da filosofia ocidental.

Tradicionalmente, o empirismo e o racionalismo respondiam de formas diferentes a questão do conhecimento. Os empiristas (Aristóteles, Hobbes, Locke, Berkeley e Hume) diziam que somente os dados da experiência sensível forneceriam as bases para o conhecimento humano, já os racionalistas (Platão, Descartes, Leibniz e Espinoza) forneciam que o conhecimento provêm da razão.

Em ambos existem obstáculos surgidos, a razão especulativa. Na medida que deixa de validar as investigações em prática, se torna dogmática. Entretanto, o empirismo encontra oposição no ceticismo, que argumenta que a natureza é contingente, e por isso não pode ser fonte de conhecimento universal.


Kant remeteu a razão ao centro do universo cognescente humano [já Descartes, censurou o conhecimento humano à um eu que tem base cogita]. Por causa disso, Kant é considerado o revolucionador da filosofia.


Quando Kant nos fala do sujeito transcendental, quer especificar que o sujeito possui as condições de possibilidade de conhecer qualquer coisa. No sujeito é que estão as regras pela quais os objetos podem ser reconhecidos. A busca dessas regras nas coisas exteriores é infrutífera e faz que voltemos a repetir o erro de Hume [que, para ele, nada é trascendental e de caráter lógico como acreditava Kant, e sim, psicológico]. Só encontramos sentido no mundo porque somos nós que lhe damos sentido através dos dados apreendidos nas intuições empíricas, passados pelas intuições puras de espaço e tempo, formando o fenômeno. Esse fenômeno, que ainda não é o conhecimento, também passa pelas categorias, que são estruturas a priori do sujeito. O mundo não tem sentido a não ser que o homem dê algum sentido a ele. O que conhecemos é profundamente marcado pela maneira pela qual conhecemos.


Kant também vai se voltar para o sujeito em sua réplica ao ceticismo humano, mas revestido de um caráter lógico e transcendental (e não psicológico, como em Hume). Antes de analisar a resposta de Kant, vamos ver como ele a formula a questão nos conceitos de a priori, a posteriori, analítico e sintético. Sendo estes princípios:

A priori: Um conhecimento que seja totalmente independente dos sentidos (como equações matemáticas, que podemos fazer mentalmente sem provas materiais);

A posteriori: Um conhecimento que possui sua fonte na experiência (como princípios científicos, que necessitam da prática para serem confirmados);

Juízo analítico: Quando emito um juízo em que o predicado está contido no sujeito (Exemplo: quando digo "A é uma letra", o predicado "letra" já é uma qualidade do sujeito "A" e a informação, por isso, é redundante);

Juízo sintético: Quando se faz um juízo em que um predicado é acrescentado ao sujeito (Exemplo: Na frase "A cadeira de minha sala é azul", acrescento ao sujeito "cadeira de minha sala" o predicado "azul" (afinal, ela poderia ser verde, vermelha, etc.). É uma informação nova, pois você poderia imaginar que a cadeira fosse de qualquer outra cor).


Kant chamou de "revolução copernicana" sua resposta ao problema do conhecimento. O astrônomo Nicolau Copérnico (1473-1543) formulou a teoria heliocêntrica - a teoria de que os planetas giravam em torno do Sol - para substituir o modelo antigo, de Aristóteles e Ptolomeu, em que a Terra ocupava o centro do universo, o que era mais coerente com os dogmas da Igreja Católica.

Kant propôs inversão semelhante em filosofia. Até então, as teorias consistiam em adequar a razão humana aos objetos, que eram, por assim dizer, o "centro de gravidade" do conhecimento. Kant propôs o contrário: os objetos, a partir daí, teriam que se regular pelo sujeito, que seria o depositário das formas do conhecimento. As leis não estariam nas coisas do mundo, mas no próprio homem; seriam faculdades espontâneas de sua natureza transcendental. Como Kant afirma no prefácio da segunda edição da Crítica da Razão Pura:


"Até agora se supôs que todo nosso conhecimento tinha que se regular pelos objetos; porém todas as tentativas de mediante conceitos estabelecer algo a priori sobre os mesmos, através do que ampliaria o nosso conhecimento, fracassaram sob esta pressuposição. Por isso tente-se ver uma vez se não progredimos melhor nas tarefas da Metafísica admitindo que os objetos têm que se regular pelo nosso conhecimento, o que concorda melhor com a requerida possibilidade de um conhecimento a priori dos objetos que deve estabelecer algo sobre os mesmos antes de nos serem dados."


O que Kant quer dizer é que o sujeito possui as condições de possibilidade de conhecer qualquer coisa. Ele possui as regras pela quais os objetos podem ser reconhecidos. Não adianta buscar essas regras no mundo exterior, pois se cairia no problema de Hume. O mundo não tem sentido a não ser que o homem dê algum sentido a ele. O que conhecemos, então, é profundamente marcado pela maneira - humana - pela qual conhecemos.


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